Lollapalooza Brasil 2023 se desvincula da desordem e exalta música em edição histórica

A edição que marca a primeira década do Lollapalooza Brasil trouxe momentos únicos em meio a artistas que se mostraram contentes por estarem aqui
Foto por @sigmaffotografia

Pensar que o Lollapalooza Brasil acontece há exatos 10 anos é dar de cara com história sendo feita. O festival já reuniu artistas tão iconicos e irreverentes desde a sua primeira edição no país que parece até impossível saber quais nomes colocar no elenco do próximo ano.

É justamente por isso que a décima iria requerer um elenco de peso pesado. À primeira vista, conseguiu. Trazer blink-182 — em sua turnê de retorno — para o país pela primeira vez em um ano histórico para o evento foi como colocar a cereja no bolo, que já possuía algumas camadas bem interessantes.

Com o cancelamento (que beira o absurdo) da banda, restou um line composto por personalidades ainda marcantes, mas que pareciam ter sido colocadas em postos fora de suas zonas de merecimentos. Em volta de mais cancelamentos e comentários distintos de todos os lados o Lollapalooza Brasil 2023 conseguiu ainda assim servir o triplo de interação.

Primeiro dia da edição era regado a presenças poderosas e um calor insaciável

O “sextou” mais esperado de março pela maioria dos fãs de música tinha finalmente chegado. Haviam muitas expectativas pelo festival, que mesmo com alguns cancelamentos (como o de Dominic Fike, Willow e a já mencionada banda de pop punk), prometia Billie Eilish, Lil Nas X, Kali Uchis, Conan Gray e Anavitória logo no primeiro dia. 

A tarde seguiu quente enquanto as pessoas revezavam entre os shows e as novidades das ativações de marca que se espalharam pelo Autódromo. Sem grandes novidades no formato e na distribuição de palcos, a ausência do famoso “Ônix Day” talvez tenha sido a maior diferença percebida dentre as outras edições. O palco Ônix, agora sob o nome de Chevrolet incorporava o circuito, mas, na prática, tudo como quase sempre foi.

Um dos destaques foi o show de Pedro Sampaio, que iluminava o céu da tarde com pirotecnia impressionante vista de qualquer lugar do Autódromo. Energético e com músicas de diversos artistas nacionais e internacionais somadas ao próprio repertório, o DJ agitou quem chegou mais cedo na sexta, e ainda emocionou em um bonito momento de sua apresentação (e carreira), ao se assumir bissexual.

Os shows seguiram pontuais, com Lil Nas X e Kali Uchis carregando as primeiras multidões da noite em diferentes palcos e praticamente ao mesmo tempo. Quem queria ver ambos os artistas tiveram que se sacrificar e aceitar perder parte de outra apresentação. Já os fãs de Billie Eilish, que faziam fila no Autódromo desde 6h da manhã, não saíram da grade do palco Bud — inclusive causando certo clima ruim durante o momento de Kali Uchis, uma vez que não deram espaço para os fãs chegarem mais perto da artista, e talvez tenham assim influenciado na energia calorosa que os artistas costumam receber no país.

No entanto, chegada a hora da headliner do dia subir no palco, o festival mostrou a que veio e a presenteou com o recorde de maior público presente na história do Lollapalooza: 103.350 mil pessoas se agarraram para ver, cantar e pular com a artista que dominou o palco com um show maduro e impecável.

Crédito: Flashbang / Lollapalooza Brasil 2023

Sábado trouxe marcas de luto, mas com uma banda substituta que agiu como protagonista

O sábado do Lollapalooza era para ter tido uma das presenças mais aguardados da história dos festivais no Brasil, mas após o acidente sofrido por Travis Barker, blink-182 cancelou sua participação, prometendo vir no próximo ano. Em seu lugar, sobrou para o Twenty One Pilots, que pisou no país meses após uma participação em outro festival. A dupla fez bonito e serviu como uma das melhores substituições já feitas encarnando uma atuação de protagonista.

Mas antes de chegar a esse momento de encerramento, o dia nos deu apresentações aguardadas e que valorizaram a cena musical nacional. Carol Biazin se mostrou dominante no palco, e bastante à vontade marcada por uma atitude de quem nem parecia estar tendo um dos shows mais importantes da carreira. Um pouco mais tarde, Pitty deu um show de energia para uma plateia que ecoava todos os hits da sua carreira palavra por palavra.

Entre a tarde e o começo da noite foi a vez do rock levantar as pessoas, com o trio Wallows e Jane’s Addiction lembrando que o público que consome o gênero nunca vai se cansar de curtir um show até ficar sem fôlego.

Fora dali, no palco Perry’s by Johnny Walker’s Blonde os DJs batalhavam para quem aglomerava mais pessoas com sets dançantes, cada um de sua forma. Eli Iwasa apostava em um som que trazia uma potência singela, LIU pulava a cada segundo e apostava em pirotecnias e efeitos que levaram a multidão a gritos. O fechamento ficou por conta de Jamie xx, que trouxe a uma escuridão lasers e luzes em momentos muito objetivos.

O dia ainda trouxe Melanie Martinez em uma apresentação com músicas que a maioria ainda não tinha conhecimento por ser de seu disco novo que chegaria na semana seguinte. Foi relativamente morno por tal roteiro, além de ainda haver a falta de contato com o público e uma escolha não tão interessante de setlist, mesmo as canções sendo ótimas. Esse combo de músicas boas, mas com uma perfomance um tanto “apenas comum” também refletiu na hora de The 1975, o show não surpreendeu, mesmo oferecendo muita conexão, mas pouca inovação.

O maior show da noite ficou por conta de Tame Impala, que com um som alto e claro surpreendeu até os fãs que já aguardavam uma apresentação forte. Mesmo com problemas físicos de saúde, Kevin Parker não pareceu cansado ou com pouca vontade de prover uma participação que ficaria na história da edição. Apesar de um pequeno atraso, que logo foi esquecido assim que os primeiros acordes de ‘One More Year’ começaram.

Domingo trouxe ainda mais perdas, mas do tipo que não deveria ser considerada

Com o cancelamento extremamente repentino e maldoso de Drake na manhã que a sua futura apresentação iria acontecer, o domingo e último dia de festival começou marcado por uma notícia desoladora para uma grande maioria que iria cantar e se mostrar devoto a um tipo de artista um tanto irresponsável.

Todo a aura de fim corria pelo evento com um ar duplo: as atrações do encerramento iriam ser épicas ou a de que o cancelamento prematuro certamente marcaria a ficha do festival. Mas sendo sincero, dada as todas as circunstâncias e atrações fantásticas que iriam subir nos palcos, se for levar em conta, tal desventura para quem não se importava com a presença provavelmente negligente do rapper, tudo não passava de uma desavença que dava para não considerar e levar pro coração, claro que isso não funciona pra todos.

Não tinha como (ao saber o porquê desse cancelamento ter acontecido) não deixar essa situação e, principalmente ele, de lado. Para quem não solicitou o reembolso e foi no último dia do festival, o saldo foi positivo, obviamente não da mesma forma para muitos, afinal, ele não deixava de ser um nome de peso dentre o elenco.

Mas quem disse que outros artistas não têm o mesmo cacife que ele para chamar mais de 100 mil pessoas para um show?

Rosalía em uma apresentação impressionante que parece seguir únicamente um caminho que é só dela, e que não se esconde para se adequar a outras culturas ou mercados, reuniu um fervoroso público que respondeu com estrondos ao poderoso nome. E ainda teve Tove Lo, recebendo um enorme público que a assistia se esbaldar com simplicidade e carisma no palco do festival, foi algo involuntariamente ardente e cheio de momentos sensuais, dançantes e com uma setlist impressionante.

Antes dela, a banda The Rose transmitiu sem muita dificuldade seu comportamento estelar em show elétrico em que manifestaram características de estrelas através da apresentação em si e das músicas. Lá no começo do dia, Larissa Luz e TUYO, mesmo em sets enxutos, levantaram o astral da galera em meio ao sol castigador nas primeiras horas do dia, era uma tarefa árdua e os artistas conseguiram mostrar atos responsáveis para o horário e cansaço da programação final.

Crédito: Flashbang / Lollapalooza Brasil 2023

Para fechar a 10ª edição, Skrillex, vindo de última hora para substituir Drake, conseguiu resplandecer o quão potente é seu nome em um set alá explosivo. Era possível encarar uma multidão de longe, e o som (extremamente atrativo) corroborava muito a favor para ir de encontro ao enorme número de pessoas.

***

A décima edição do Lollapalooza Brasil se tornou históricamente marcada por algumas machnas negativas, mas que ao final se transformaram em grandes saldos positivos. Essa também se tornou a primeira vez no escutai no festival como imprensa. Mesmo com cancelamentos, perdas para os fãs que aguardavam o momento de assistir aos ídolos por meses e outros diversas polêmicas, a edição se mostrou otimista, onde acima de tudo, prezou em entregar um espaço onde fãs de todas as idades e tipos pudessem curtir a música ao extremo.

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